sábado, 16 de julho de 2011

Não coube na pasta - 24/09/08

Tem uma pasta minha cheia de textos antigos.
Vou começar a passar tudo pra cá, é um bom lugar pra guardar.

Amanhece o dia... um novo recomeço. Eu tento limpar a sujeira da cara, pra poder esquecer, e não lembrar dos problemas (que foram) causados por causas anteriores a eles em si.

A questão que me indago é se o tempo que passa vai mudar o panorama geral da situação, ou não. Porque todos - ou a grande maioria - reincidem nos mesmos erros, enquanto o resto se contenta em ficar parado, sem fazer nada.

O dia-a-dia pode cansar, a rotina pode até viciar, o cotidiano pode ser a única coisa que acontece o tempo todo. Mas eles não vão me deixar na mão, sei que não, sei que vão insistir em não querer tentar deixar mudar a opinião, em vão.

Escurece a noite, cai cada vez mais baixa, eu tento falar o que pensei dizer quando conversava com você. Não é um problema de solução, é o motivo sem causa que adianta tanto pra frente que nem adianta tentar se atrasar atrás - quem não peca, paga o preço do pecado pecado por quem era pra pagar só e sem mais ninguém.

Enquanto uma parte faz as coisas, a outra parte não faz nada! A inércia imóvel da massa omissa maciça, massiva e maçante, amassa a chance do lance, e a missa que amacia a malícia amansa, e a moça diz amém. Ela agradece a falta do que não tem. Pois se tivesse tão certamente iria além.

Levantaria-se de pé, ergueria a cabeça sobre seus ombros, e diria:

Desta vez, não.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

[LUTO] - Morte e vida orkutiana

Já faz um tempo que eu quero escrever sobre a morte e como as pessoas lidam com ela, em especial no orkut, que é um bom lugar pra olhar as pessoas se comportando na internet - e como eu já cheguei a andar bastante por ali, acabei vendo uma ou outra coisa interessante. Não tenho tanto a falar, porque achei um artigo da intexto, uma revista da UFRGS, que fala do mesmo. Chama-se "Viver e Morrer no Orkut: os paradoxos da rematerialização do ciberespaço". Vale a pena ler, e dá pra baixar o pdf.

O artigo se propõe a discutir aspectos relativos à experiência da morte, tal como ela se apresenta no Orkut, site de relacionamentos que se tornou tremendamente popular entre os usuários brasileiros. O que a morte revela sobre a vida no ciberespaço? De que maneira o processo de luto se constrói em um ambiente em que o perfil sobrevive ao usuário? Em que medida a morte dos outros se constitui como uma ocasião para refletir sobre o próprio sentido da vida?

Não vou ficar aqui repetindo a opinião nem as conclusões do texto, e acabei descobrindo que esse assunto nem é tão novo assim, só fui mais um a se pôr a pensar nele. Apenas queria deixar notado também como esse ciberespaço facilita o luto, como fica mais fácil e cômodo lidar com o morto quando ele - ou, usando a nomenclatura do artigo, a persona dele - está ali, digamos, presente para sempre, como uma lápide-corpo, uma casca de árvore. Permite tanto a sinceridade espontânea quanto a fala mais pensada, mais passada: tem perfil de amigo meu falecido que anos depois ainda recebe mensagens belas, de quem sente vontade de conversar - ou simplesmente de passar um recado a ele.

pensei em você e vim cá ter ....tomar um cado do seu tempo, já que é um dos poucos anjos que eu conheço...sabe... hoje pensei na vida no céu, se fosse por aqui ia te pedir um mapa, um folder e um postal de souvenir.bjo

Teve outra que uma vez eu achei muito bonita - foi pouco depois de um acidente de estrada. Bicicleta e caminhão, coisas feitas para não andarem próximas. Deu no que deu. Teve muita gente - eu incluso - que achou muita imprudência do ciclista, e ficou com aquela raiva que a gente fica quando alguém comete um erro grande, mas.. passado o momento, é paciência. E eu me surpreendi com o que o melhor amigo dele falou. Acho que tem a ver um pouco com o que o artigo ali fala da pessoa morrer e então passar a ser revelada, por não controlar mais o que é dito a respeito dela.

lembra da lua que voce sempre me falo? pois é meu irmao, hoje nao tem lua, pq, pq hoje a lua é voce, lembra que voce falo que nao importa que voce nao acredite em nada, acredite na lua, pois nao importa onde, ela sempre vai ta la, e realmente ela sempre ta, soque hoje quem representa a lua é voce meu irmao, mesmo nao estando aqui hoje, sempre vai ta com a gente =/

Acabou ficando um post mais de constatação do que de reflexão. Não faz mal.

PS - Nas anotações pra esse post, tinha o nome de dois amigos meus falecidos.. junto do nome de um amigo meu que não morreu, e nenhum asterisco dizendo o porquê. Medo.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Desespertador

Em alguns momentos, nos últimos dias, se ficasse quieto o suficiente, eu conseguia ouvir o barulho do meu despertador. Era como se eu estivesse na beira de um sonho, prestes a acordar e cair da cama.

Se isso fosse verdade, eu sentia que seria muito injusto, pois por mais que sonhos não sigam regras, e transitem livremente entre o parafrodisíaco e o pesadelo cruel, neles a sensação de controle da realidade - e mesmo de si mesmo - é menor. Eu pelo menos só sei o que estou fazendo, quando sonho. Nunca me sinto fazendo as coisas, dono de mim. Fato é que esse não era o fato: o mundo estava tão palpável como em qualquer outro dia, com essa exceção do despertador, e talvez o sono que estava me faltando. Umas horas a menos nas duas últimas noites, nada que devesse levar à alucinação, mas talvez o suficiente para alterar a interpretação (mas não a percepção: que fique claro que talvez nem tudo o estivesse para mim) da realidade.

Será que teria a ver? Também me parece pobre demais ser apenas uma imagem residual, o último relógio que tocou, desesperador, anunciando o começo de um dia mais longo após uma noite mais curta. Apesar disso, de uma maneira ou outra a sensação era a oposta: não a brasa que gira e deixa seu traço na retina, mas o cheiro, a antecipação ou lembrança do traço, que chama a brasa como que para confirmar a imagem que ele deixa no ar. Era bem mesmo a sensação de que iria acordar.

Eu me ocupei e passou a angústia, passou também uma noite normal terminada com uma manhã convencional: o despertador tocando somente na hora estipulada, e parando de tocar corretamente, ao meu toque. Como a normalidade é impressionante. No entanto, ainda ficou a sensação de jet lag: calma aí, eu não viajei de avião.

Acho que falta ajustar os parâmetros melhor. Estou desafinado com a minha rotina verdadeira.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Charm, persuasion, uncertainty and bloody-mindedness.

‘How did you get here, actually?’ said the druid. ‘We’re five hundred feet up, unless I’ve got the runes wrong again.’

Rincewind tried not to think about height. ‘We sort of dropped in as we were passing,’ he said.

‘On our way to the ground,’ Twoflower added.

‘Only your rock broke our fall,’ said Rincewind. His back complained. Thanks,’ he added.

‘I thought we’d run into some turbulence a while back,’ said the druid, whose name turned out to be Belafon. That must have been you.’ He shivered. ‘It must be morning by now,’ he said. ‘Sod the rules, I’m taking us up. Hang on.’

‘What to?’ said Rincewind.

‘Well, just indicate a general unwillingness to fall off,’ said Belafon. He took a large iron pendulum out of his robe and swung it in a series of baffling sweeps over the fire. Clouds whipped around them, there was a horrible feeling of heaviness, and suddenly the rock burst into sunlight.

It levelled off a few feet above the clouds, in a cold but bright blue sky. The clouds that had seemed chillingly distant last night and horribly clammy this morning were now a fleecy white carpet, stretchingaway in all directions; a few mountain peaks stood out like islands. Behind the rock the wind of its passage sculpted the clouds into transient whirls. The rock—

It was about thirty feet long and ten feet wide, and blueish.

‘What an amazing panorama,’ said Twoflower, his eyes shining.

‘Um, what’s keeping us up?’ said Rincewind.

‘Persuasion,’ said Belafon, wringing out the hem of his robe.

‘Ah,’ said Rincewind sagely.

‘Keeping them up is easy,’ said the druid, holding up a thumb and squinting down the length of his arm at a distant mountain, The hard part is landing.’

‘You wouldn’t think so, would you?’ said Twoflower.

‘Persuasion is what keeps the whole universe together,’ said Belafon. ‘It’s no good saying it’s all
done by magic.’

Rincewind happened to glance down through the thinning cloud to a snowy landscape a considerable distance below. He knew he was in the presence of a madman, but he was used to that; if listening to this madman meant he stayed up here, he was all ears.

Belafon sat down with his feet dangling over the edge of the rock.

‘Look, don’t worry,’ he said. ‘If you keep thinking the rock shouldn’t be flying it might hear you and become persuaded and you will turn out to be right, okay? It’s obvious you aren’t up to date with modern thinking.’

‘So it would seem,’ said Rincewind weakly. He was trying not to think about rocks on the ground. He was trying to think about rocks swooping like swallows, bounding across landscapes in the sheer joy of levity, zooming skywards in a—

He was horribly aware he wasn’t very good at it.

The druids of the Disc prided themselves on their forward-looking approach to the discovery of the mysteries of the Universe. Of course, like druids everywhere they believed in the essential unity of all life, the healing ower of plants, the natural rhythm of the seasons and the burning alive of anyone who didn’t approach all this in the right frame of mind, but they had also thought long and hard about the very basis of creation and had formulated the following theory:

The universe, they said, depended for its operation on the balance of four forces which they identified as charm, persuasion, uncertainty and bloody-mindedness.

Thus it was that the sun and moon orbited the disc because they were persuaded not to fall down, but didn’t actually fly away because of uncertainty. Charm allowed trees to grow and bloody-mindedness kept them up, and so on.

Some druids suggested that there were certain flaws in this theory, but senior druids explained verypointedly that there was indeed room for informed argument, the cut and thrust of exciting scientific debate, and basically it lay on top of the next solstice bonfire.

‘Ah, so you’re an astronomer?’ said Twoflower.

‘Oh no,’ said Belafon, as the rock drifted gently around the curve of a mountain, I’m a computer hardware consultant.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Engraçados

Engraçado como algumas coisas mudam rápido e a gente nem percebe.

Engraçado como eu acho tudo engraçado. Tem o funny haha e o funny weird, como diria o Alan, e acho que isso eu nunca vou esquecer. O curioso - aqui no sentido de engraçado - é que normalmente eu acho engraçado no sentido de curioso. Mas continuo curioso pelo engraçado, pelo que faz rir, pelo que a gente faz com o riso ou depois de achar engraçado. Já reparou no que você acha engraçado? A guinada no fim da tirinha, da piada, ou mesmo a piada interna - que francamente, pra qualquer pessoa numa condição racional e externa, tem tanta graça quanto sentido. Mas curiosamente - desculpa, agora já não sei - isso não parece lógico, porque chega uma hora que o humor da situação supera o sentido, ou é o riso que já se auto-sustenta e dispensa outras explicações.

Dar risada é uma coisa, por si só, muito engraçada. Repara: a respiração fica toda interrompida, tem gente que ronca que nem porco, um guincha, o outro parece uma hiena. Uma amiga minha ria tão alto (de volume, e de tom também) que chegava a receber umas mensagens de "Acho que você tá no mesmo filme que eu, tô ouvindo sua risada". Sem falar nas quedas ao chão, nos casos asmáticos, ou nas vezes que alguém realmente ameaça morrer de rir. Nessas horas eu não sei se chamo uma ambulância, os doutores da alegria ou tento congelar a cena e isolar a causa do riso. É complicado.

Outra coisa peculiar - para não falar engraçada ou curiosa - é como algumas palavras servem para se referir a praticamente qualquer coisa. Para um amigo meu tudo é foda. Morreu alguém? É foda. Morreu de rir então? É foda. A vida não é fácil? É foda. Não, não é uma resposta à pergunta. É apenas uma constatação. E como ele fala isso tanto com um semi-riso no rosto, quanto com uma cara de consternação, dependendo do momento (na verdade não varia tanto assim), é o suficiente para realmente não saber se a foda é boa ou não. Já eu acho engraçado. Acho que se um dia eu me deparasse com meu próprio cadáver estirado na calçada ia achar engraçado. Pelo menos não acho gozado. Pega mal, sabe como é.

Sabe? Esse "sabe como é" é outro: completamente indiferente ao leitor saber ou não como é a tal da coisa. Não faz diferença se você realmente acha que o sujeito sabe alguma coisa. Terminar a frase com um "sacumé" é a mesma coisa que dizer "eu não sei se você sabe do que eu estou falando, na verdade nem você sabe se eu sei, mas que fique nos registros que eu sei, pelo menos". Pode ser também "não quero falar disso aqui, é muito constrangedor pra mim" ou então "assunto chato - cortando a conversa AGORA". É de fato uma dessas expressões multifuncionais - apesar de semelhante, é mais ou menos o oposto do foda ali acima. Ainda assim, muito útil, principalmente quando você quer significar dois ou três desses sentidos (ou quando não tem exatamente nenhum em mente). Engraçado, né?

Engraçado como algumas coisas mudam rápido e a gente nem percebe. Outras não. Entre o rabugento, o cricri e quem apenas se diverte com o mundo que enxerga não dá um ovo de codorna.