sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Precoces

Ele aprendeu a ler antes de completar um ano e meio.
Ela aprendeu a falar cantando, e a dançar, andando.

Ele entrou na escola mais cedo, era o mais novo da turma.
Ela já aos cinco trabalhava no balcão da loja dos pais.

Ele já tinha barba completa, quando seus colegas contavam quem tinha mais pelos no bigode.
Ela foi a primeira a usar absorvente e a emprestar o sutiã da mãe - por necessidade.

Ele saiu da escola mais cedo, ingressou na faculdade em plena puberdade.
Ela saía da escola mais cedo, tinha um emprego meio-período.

Ele se formou recém-vintolescente, enquanto os amigos de infância passavam no vestibular.
Ela tocava o próprio negócio e duas filiais da loja, enquanto fazia aulas de direção.

Ele pulou o mestrado, tornou-se o mais jovem doutor em uma área pioneira.
Ela, cansada de namorar moleques de sua idade, resolveu investir nos colegas do MBA. Conheceram-se lá.

Ele acabou a noite na casa dela, sem sequer lembrar seu nome.
Ela sequer lembrava seu nome, só queria saber onde ficava o interruptor, para apagar as luzes.

Não deu tempo de alcançar o interruptor. Nem de tirar a roupa, quanto menos de vestir a camisinha.

Ele aprendeu rápido o jeito dela, ela aprendeu como ele queria ser tratado.
Ele entrava mais cedo, ela saía mais cedo
Ele não tinha tempo para o casamento, ela não tinha tempo para cuidar de casa.
Ele não tinha tempo para fazer sua parte, ela não tinha tempo para saber que parte era essa.

O bebê nasceu prematuro.

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