sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Engraçados

Engraçado como algumas coisas mudam rápido e a gente nem percebe.

Engraçado como eu acho tudo engraçado. Tem o funny haha e o funny weird, como diria o Alan, e acho que isso eu nunca vou esquecer. O curioso - aqui no sentido de engraçado - é que normalmente eu acho engraçado no sentido de curioso. Mas continuo curioso pelo engraçado, pelo que faz rir, pelo que a gente faz com o riso ou depois de achar engraçado. Já reparou no que você acha engraçado? A guinada no fim da tirinha, da piada, ou mesmo a piada interna - que francamente, pra qualquer pessoa numa condição racional e externa, tem tanta graça quanto sentido. Mas curiosamente - desculpa, agora já não sei - isso não parece lógico, porque chega uma hora que o humor da situação supera o sentido, ou é o riso que já se auto-sustenta e dispensa outras explicações.

Dar risada é uma coisa, por si só, muito engraçada. Repara: a respiração fica toda interrompida, tem gente que ronca que nem porco, um guincha, o outro parece uma hiena. Uma amiga minha ria tão alto (de volume, e de tom também) que chegava a receber umas mensagens de "Acho que você tá no mesmo filme que eu, tô ouvindo sua risada". Sem falar nas quedas ao chão, nos casos asmáticos, ou nas vezes que alguém realmente ameaça morrer de rir. Nessas horas eu não sei se chamo uma ambulância, os doutores da alegria ou tento congelar a cena e isolar a causa do riso. É complicado.

Outra coisa peculiar - para não falar engraçada ou curiosa - é como algumas palavras servem para se referir a praticamente qualquer coisa. Para um amigo meu tudo é foda. Morreu alguém? É foda. Morreu de rir então? É foda. A vida não é fácil? É foda. Não, não é uma resposta à pergunta. É apenas uma constatação. E como ele fala isso tanto com um semi-riso no rosto, quanto com uma cara de consternação, dependendo do momento (na verdade não varia tanto assim), é o suficiente para realmente não saber se a foda é boa ou não. Já eu acho engraçado. Acho que se um dia eu me deparasse com meu próprio cadáver estirado na calçada ia achar engraçado. Pelo menos não acho gozado. Pega mal, sabe como é.

Sabe? Esse "sabe como é" é outro: completamente indiferente ao leitor saber ou não como é a tal da coisa. Não faz diferença se você realmente acha que o sujeito sabe alguma coisa. Terminar a frase com um "sacumé" é a mesma coisa que dizer "eu não sei se você sabe do que eu estou falando, na verdade nem você sabe se eu sei, mas que fique nos registros que eu sei, pelo menos". Pode ser também "não quero falar disso aqui, é muito constrangedor pra mim" ou então "assunto chato - cortando a conversa AGORA". É de fato uma dessas expressões multifuncionais - apesar de semelhante, é mais ou menos o oposto do foda ali acima. Ainda assim, muito útil, principalmente quando você quer significar dois ou três desses sentidos (ou quando não tem exatamente nenhum em mente). Engraçado, né?

Engraçado como algumas coisas mudam rápido e a gente nem percebe. Outras não. Entre o rabugento, o cricri e quem apenas se diverte com o mundo que enxerga não dá um ovo de codorna.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

2 guys 4 chords

Alou, manolos!

Gravei um vídeo com o Vaca (meu querido colega de CM), da nossa apresentação no Sarau Moleculento. Como tudo o que é gravado por câmera e microfone de notebook, não tá com qualidade profissional, mas quebra um bom galho. É uma paródia, um mashup de mashups, e eu espero que vocês consigam entender o que a gente fala gostem.

Se não gostarem, também, não faz mal. :D

2 guys 4 chords from Victor Coelho on Vimeo.

Créditos: Rob Paravonian e Axis of Awesome. Os originais são deles.

domingo, 17 de outubro de 2010

Sparkle Smile

Hoje eu estava no mercado, quando vi um mendigo comprando refrigerante.

A aparência não tinha a quem enganar: roupas aos trapos, cabelo, pele e mãos já bastante judiadas, apesar de ser um homem jovem. Mas o que chamava mesmo atenção era a própria situação: um mendigo saindo do mercado carregando uma garrafa de Fanta Uva. o que me deixou imóvel, no entanto, foi o sorriso dele. Era uma pessoa que com certeza tem muito menos facilidades na vida do que eu, que tenho sempre um teto, uma cama, um chuveiro (quase sempre) com água quente, e alimento ao alcance. Sabe-se lá se ele tinha o que almoçar!

E mesmo assim, aquela enigmática garrafa PET de Fanta Uva. Na hora, eu nem pensei tanto a respeito, só fiquei deslumbrado pela felicidade nítida e pura estampada na cara do homem. Devia estar pensando na família, ou em alguém que, numa oportunidade rara, ia tomar refrigerante, ia ter aquele luxo de gente que não tem o dinheiro tão contado assim. Era uma alegria tão genuína que eu até desconfio que seja parte invenção minha. Esse tipo de coisa não pode se perder. A gente precisa de tanto pra ser feliz, tem tanta gente entediada com a vida.. vai passar fome, vai. Muda de perspectiva. Não é nem pra criticar os outros, mas eu acho que aquele sorriso não pode ficar só na minha memória.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Obsessão inventada

Você me fascina.
Não sei se é o momento de encontro entre dois desconhecidos - falsos amigos talvez, mas não tanto a amigos falsos - mas mais a duração de algo tão... sutil, fino, quase inexistente, e ainda assim, esquisitamente estável.

Superficial como superfície, da aparência, mas não de falta de profundidade. Fino, também, mas não, talvez, na qualidade. Relação é forte demais, mas é uma relação fora da causalidade (ou isso alguma lembrança se fez omitir: probabilidade?). São fios que ligam as duas partes, ninguém sabe como, pois ninguém os vê. Quem sabe o que me maravilha tanto é tentar encontrá-los, pois sei que existem. A realidade está aí pra comprovar!

Quando vejo, estou com suas fotos diante de mim, como para tentar extrair um mínimo de informação, tentar fisgar algum detalhe, algum lampejo desapercebido da sua alma, pois, querendo ou não, sei pouco mais que o seu nome. Posso até ler a sua forma de pensar, o pouco que você externaliza ou intern(et)aliza de seu cotidiano, mas os detalhes banais e desimportantes, ironicamente, fazem falta. Não conheço sua voz, o que faz da vida (ok, o que REALMENTE faz da vida), por outro lado me sinto mais à vontade com você do que com outras pessoas que supostamente conheço - pois esta palavra cada vez faz menos sentido - melhor, ou há mais tempo. Aliás, há quanto tempo? Não sei. Em algum momento a minha memória episódica lembra de ter te encontrado, e nesse instante já fazia tempo que a gente não se via... hein? Na hora até questionei. Me parece mais é que os fios sou eu que estou atando. Mas foi você que acenou primeiro!

Será que você pensa (em? não, com certeza não) de mim? O que será que pensa? Sou eu que tenho a cabeça fraca ou você também não lembra das nossas conversas sequer terem existido? Não se confunde um estranho assim tantas vezes, e não se leva farsa adiante quando o estranho é o último a perceber. Como posso dizer que alguém me atrai sem ser mal(a) interpretado? Talvez só o fato de ser algo desconhecido e ainda assim tão vibrante, tão exótico a mim e mesmo assim inconscientemente(mente?) familiar. Eu sinto como se tivesse algo a acrescentar, mas é apenas vontade de fazer bater a realidade e a aparência. Estranho construir uma amizade de ponta cabeça, é mais difícil saber de que ponto você partiu, quem dirá onde vai parar.

Olhando a sua cara de brava congelada, fico aqui imaginando sua vida, seu jeito de sentir o mundo, e principalmente - eu ignoro o paradoxo - todas as coisas que eu provavelmente imagino errado e me iludo. No entanto, você não sai da minha consciência. Acho que te vi passar, começo a ver coincidências e criar hipóteses para aos poucos ligar os fios e zás, tudo se passa como nada se passasse!...

Ou talvez o melhor seja descobrir um nome científico pra isso, dizer que é condição clínica ou efeito psicológico, e não esquentar mais a cabeça.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Malabarismo


De um lado está o perfeccionismo, a ideia de que se algum trabalho ou projeto pelo qual eu me sinta mais ou menos responsável não sair ou sair malfeito, eu não vou (me) perdoar. Não sei até que ponto isso é bom, ou até que ponto é egoísmo e exagero.

Do outro lado, a noção de que eu tenho que criar prioridades, e de que nem sempre se pode fazer tudo bem feito, de que nem sempre tudo vai sair como eu quero, por mais que eu esteja certo de que estou certo. Sem falar que, acima dos meus objetivos, deve ficar o cuidado com a minha saúde, e com as coisas pelas quais eu já sou responsável. Relacionamento, família e tal.

Não chega a ser mania de perfeição, nem tudo precisa sair perfeito, e mesmo se eu não der tudo de mim, ainda é compreensível; eu certamente tenho outra coisa para fazer. Ainda assim, imperfeito é claramente diferente de PORCO - isso é subjetivo, sim, mas também insuportável. É óbvio que eu não passaria a viver sob a sombra do que me desagradou e ficou além do meu alcance, até porque passaria a viver sobre essa sombra, verdade seja dita. E mesmo assim, seria uma pedra na espinha dorsal do ego. Novamente aquele dilema de "haha, você é humano! você não é capaz de fazer tudo bem feito e ao mesmo tempo!"

Eu sou humano, pois. É justamente isso que me livra da culpa (pois sejamos sinceros, é culpa) que sentiria se não conseguisse dar conta de todas as funções a mim mesmo impostas. Por isso que é bom dividir o trabalho, delegar tarefas simples a quem pode cumpri-las sem entrar em desespero, coisa que acontece, quando se acumula demais. E essa é a melhor coisa para se fazer - pôr na mão de alguém confiável, que saiba o que está fazendo, e, já que insiste(insisto), que entenda o que eu quero e faria.

Mas e na falta dessa pessoa? Sim, eu sou humano, e é essa a beleza da coisa - a humanidade em mim é o que me faz superar limites, evoluir. Na verdade, não fosse isso, seria qualquer outra coisa, mas é esse caráter que me permite fazer mais do que espero, e espera-se, de mim. Eu posso, e tenho o direito de tentar.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Salve a Pedra!

Tem tanta coisa nesse mundo modernão de hoje que tá ameaçada de se extinguir. Várias já caíram pra categoria de mathom, aquelas coisas que você mantém não por necessidade, mas porque não quer abandonar. Quem ainda tira foto e revela o filme? Quem ainda usa o correio para conversar? Orelhão ou celular? Basicamente, dois grupos: o que o faz por prazer, e o que não tem acesso ao mais recente. Na verdade eu me incluo um pouco em cada; aquele cartão telefônico vem a calhar quando os créditos acabam.

Ainda assim, CD já é coisa de camelô, ou de fã que quer contribuir. Apoiar a pirataria hoje já não é necessariamente crime, tem organizações sérias como o Partido Pirata (ééé) a favor, por exemplo, de mais liberdade. Creative Commons, software livre... um amigo meu disse que o futuro é livre. Concordo.

O jornal tá virando gasto de papel, quem quer pode muito bem ler suas notícias em tempo real na internet. Não precisa esperar o dia seguinte. Mesmo o jornal na TV à noite tá ficando ultrapassado, hoje só quem não quer (ou não tem como) acessar ler suas notícias online faz uso dele. Aí vêm RSS e Twitter, pra acabar com a graça: se todo mundo tá comentando alguma coisa, se alguma agência de notícias solta um link, não precisa de mais nada pra se informar. Repara que ainda precisa desse papel do jornalismo, mas não do jornalismo no papel. E não é o tipo de coisa que deve ou deveria acabar.

Os livros estão ali com Kindle, iPad e semelhantes: outro dia vi uma pesquisa sobre onde é melhor ler um livro, e todos eles tiveram quantidade semelhante de votos, o único que perdeu foi o Desktop - também pudera, ninguém gosta de ler torto numa cadeira, olhando pra tela. Sem falar que pra muita gente fica muito semelhante - anatomicamente, é igual - às suas horas de trabalho. Dá pra compreender a vontade de sair do computador pra ler, nem que seja usando um outro, camuflado de prancheta.

E por aí vai. Não é triste, nem necessariamente bonito. O papiro coexistiu com a litografia, até que ninguém mais fazia questão de carvar mensagens na pedra. Mas e se quisessem salvar a pedra? E se quiserem salvar os livros de papel, ou os direitos autorais sobre a música? Tem uma palavra pra isso. Ou duas, não sei, ainda não me dou bem com a nova ortografia. Como é neologismo, deixa que eu (não) decido: rede-socialize. Ou só socialize.


Eu prefiro não fazer propaganda de quem tá tentando (com crescente sucesso) dominar o mundo, mas já usaram o Google Reader? Eu não, por pura e sincera preguiça. Na verdade, entre esta e a frase passada, acabei de fazê-lo, por descuido e descaso, mas meu discurso continua o mesmo: já viu coisa mais prática? Mata aquele argumento de "tem que filtrar, ninguém quer ler uma avalanche de mensagens sem sentido" que usam contra o Twitter. É uma crítica válida, mas não justifica a inexistência do serviço. A ideia é "um passarinho me contou", e não "notícias em primeira mão".

Sem falar de Skoob, MySpace e tantas outras maneiras novas de se compartilhar informação. Pelo que me parece, nos anos de agora, se você quer salvar um negócio, não basta mais investir no indivíduo e na beleza da unicidade. É preferível fazer com que ele se sinta integrado, um elemento importante e interessante de um grupo, que pode usufruir não só de suas contribuições, mas de todos os outros membros.

E não estou falando só do flogão dos migs ou daqueles blogs de receita de comadre.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

[LUTO] - Morte e vida orkutiana


Já faz um tempo que eu quero escrever sobre a morte e como as pessoas lidam com ela, em especial no orkut, que é um bom lugar pra olhar as pessoas se comportando na internet - e como eu já cheguei a andar bastante por ali, acabei vendo uma ou outra coisa interessante. Não tenho tanto a falar, porque achei um artigo da intexto, uma revista da UFRGS, que fala do mesmo. Chama-se "Viver e Morrer no Orkut: os paradoxos da rematerialização do ciberespaço". Vale a pena ler, e dá pra baixar o pdf.

O artigo se propõe a discutir aspectos relativos à experiência da morte, tal como ela se apresenta no Orkut, site de relacionamentos que se tornou tremendamente popular entre os usuários brasileiros. O que a morte revela sobre a vida no ciberespaço? De que maneira o processo de luto se constrói em um ambiente em que o perfil sobrevive ao usuário? Em que medida a morte dos outros se constitui como uma ocasião para refletir sobre o próprio sentido da vida?

Não vou ficar aqui repetindo a opinião nem as conclusões do texto, e acabei descobrindo que esse assunto nem é tão novo assim, só fui mais um a se pôr a pensar nele. Apenas queria deixar notado também como esse ciberespaço facilita o luto, como fica mais fácil e cômodo lidar com o morto quando ele - ou, usando a nomenclatura do artigo, a persona dele - está ali, digamos, presente para sempre, como uma lápide-corpo, uma casca de árvore. Permite tanto a sinceridade espontânea quanto a fala mais pensada, mais passada: tem perfil de amigo meu falecido que anos depois ainda recebe mensagens belas, de quem sente vontade de conversar - ou simplesmente de passar um recado a ele.

pensei em você e vim cá ter ....tomar um cado do seu tempo, já que é um dos poucos anjos que eu conheço...sabe... hoje pensei na vida no céu, se fosse por aqui ia te pedir um mapa, um folder e um postal de souvenir.bjo

Teve outra que uma vez eu achei muito bonita - foi pouco depois de um acidente de estrada. Bicicleta e caminhão, coisas feitas para não andarem próximas. Deu no que deu. Teve muita gente - eu incluso - que achou muita imprudência do ciclista, e ficou com aquela raiva que a gente fica quando alguém comete um erro grande, mas.. passado o momento, é paciência. E eu me surpreendi com o que o melhor amigo dele falou. Acho que tem a ver um pouco com o que o artigo ali fala da pessoa morrer e então passar a ser revelada, por não controlar mais o que é dito a respeito dela.

lembra da lua que voce sempre me falo? pois é meu irmao, hoje nao tem lua, pq, pq hoje a lua é voce, lembra que voce falo que nao importa que voce nao acredite em nada, acredite na lua, pois nao importa onde, ela sempre vai ta la, e realmente ela sempre ta, soque hoje quem representa a lua é voce meu irmao, mesmo nao estando aqui hoje, sempre vai ta com a gente =/

Acabou ficando um post mais de constatação do que de reflexão. Não faz mal.

PS - Nas anotações pra esse post, tinha o nome de dois amigos meus falecidos.. junto do nome de um amigo meu que não morreu, e nenhum asterisco dizendo o porquê. Medo.