sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Mais um post metalinguístico

Tenho vontade de escrever. Tenho muita vontade de escrever, na verdade. O que não tenho tanto é tempo, preciso dormir esta noite, recuperar as horas perdidas na labuta da madrugada passada, tentar pôr em dia o sono perdido aos poucos durante a semana, a hora diária que se acumula em cansaço. Mas também preciso escrever, tenho tarefas e trabalhos a cumprir; é relatório, é seminário; purgatório, corolário. Bastante pra pensar, pra ex-pôr no papel, pra escrever até perder a vontade.

Mas ela não some. O que eu quero mais escrever não é o que me mandam, não é o que consta nas minhas obrigações e me comprometo a fazer. A sede que me dá é a de mostrar minha ideia e opinião, mostrar ao mundo - e não só ao mundo que me rodeia, mas ao mundo que eu alcanço, que está longe dos meus braços e das minhas mãos, mas não dos meus olhos, dos meus ouvidos. A ânsia vem daquele detalhe que parece que só eu reparei, da falta que eu sinto e não percebia, da beleza que eu não via. Provavelmente nem é nada tão relevante, mas é, pra mim. E talvez seja isso - para mim. Talvez o post no blog não seja tanto para os leitores, massim para o próprio autor. Para o luxo de seu ego? Para achar que escreve? Para pensar que é lido, ou, quando isso se realiza, crer em si mesmo, crer nas próprias palavras? Talvez. Seria uma ótima maneira de uma mentira se fazer acreditada: não é ela que vira verdade, quando dita mil vezes?

Eu não acredito muito nisso. A frase da mentira dá pra discutir, mas não estou falando dela; para mim, o blog não é só para o bel-prazer de ser lido. Também não só pra escrever, porque pra isso tem diário, e sei lá, não se coloca algo na internet pensando que nunca será lido. Não, não, acho que o blog tem outra função. Qual, então? Informar? Certamente não o caso deste. Ao menos não no sentido mais imediato de informar. Seria, então, unir o útil ao agradável, escrevendo quem goste de escrever e lendo quem gosta de ler? Perhaps.

Agora vou dormir, PQP, que canseira.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Isaac Asimov - A Última Pergunta

Um texto impressionante de um cara que escreveu coisas impressionantes. Nada mais.


Isaac Asimov - A Última Pergunta

A última pergunta foi feita pela primeira vez, meio que de brincadeira, no dia 21 de maio de 2061, quando a humanidade dava seus primeiros passos em direção à luz. A questão nasceu como resultado de uma aposta de cinco dólares movida a álcool, e aconteceu da seguinte forma...

Alexander Adell e Bertram Lupov eram dois dos fiéis assistentes de Multivac. Eles conheciam melhor do que qualquer outro ser humano o que se passava por trás das milhas e milhas da carcaça luminosa, fria e ruidosa daquele gigantesco computador. Ainda assim, os dois homens tinham apenas uma vaga noção do plano geral de circuitos que há muito haviam crescido além do ponto em que um humano solitário poderia sequer tentar entender.

Multivac ajustava-se e corrigia-se sozinho. E assim tinha de ser, pois nenhum ser humano poderia fazê-lo com velocidade suficiente, e tampouco da forma adequada. Deste modo, Adell e Lupov operavam o gigante apenas sutil e superficialmente, mas, ainda assim, tão bem quanto era humanamente possível. Eles o alimentavam com novos dados, ajustavam as perguntas de acordo com as necessidades do sistema e traduziam as respostas que lhes eram fornecidas. Os dois, assim como seus colegas, certamente tinham todo o direito de compartilhar da glória que era Multivac.

Por décadas, Multivac ajudou a projetar as naves e enredar as trajetórias que permitiram ao homem chegar à Lua, Marte e Vênus, mas para além destes planetas, os parcos recursos da Terra não foram capazes de sustentar a exploração. Fazia-se necessária uma quantidade de energia grande demais para as longas viagens. A Terra explorava suas reservas de carvão e urânio com eficiência crescente, mas havia um limite para a quantidade de ambos.

No entanto, lentamente Multivac acumulou conhecimento suficiente para responder questões mais profundas com maior fundamentação, e em 14 de maio de 2061, o que não passava de teoria tornou-se real.

A energia do sol foi capturada, convertida e utilizada diretamente em escala planetária. Toda a Terra paralisou suas usinas de carvão e fissões de urânio, girando a alavanca que conectou o planeta inteiro a uma pequena estação, de uma milha de diâmetro, orbitando a Terra à metade da distância da Lua. O mundo passou a correr através de feixes invisíveis de energia solar.

Sete dias não foram o suficiente para diminuir a glória do feito e Adell e Lupov finalmente conseguiram escapar das funções públicas e encontrar-se em segredo onde ninguém pensaria em procurá-los, nas câmaras desertas subterrâneas onde se encontravam as porções do esplendoroso corpo enterrado de Multivac. Subutilizado, descansando e processando informações com estalos preguiçosos, Multivac também havia recebido férias, e os dois apreciavam isso. A princípio, eles não tinham a intenção de incomodá-lo.

Haviam trazido uma garrafa consigo e a única preocupação de ambos era relaxar na companhia do outro e da bebida.

"É incrível quando você pára pra pensar…," disse Adell. Seu rosto largo guardava as linhas da idade e ele agitava o seu drink vagarosamente, enquanto observava os cubos de gelo nadando desengonçados. "Toda a energia que for necessária, de graça, completamente de graça! Energia suficiente, se nós quiséssemos, para derreter toda a Terra em uma grande gota de ferro líquido, e ainda assim não sentiríamos falta da energia utilizada no processo. Toda a energia que nós poderíamos um dia precisar, para sempre e eternamente."

Lupov movimentou a cabeça para os lados. Ele costumava fazer isso quando queria contrariar, e agora ele queria, em parte porque havia tido de carregar o gelo e os utensílios. "Eternamente não," ele disse.

"Ah, diabos, quase eternamente. Até o sol se apagar, Bert."

"Isso não é eternamente."

"Está bem. Bilhões e bilhões de anos. Dez bilhões, talvez. Está satisfeito?"

Lupov passou os dedos por entre seus finos fios de cabelo como que para se assegurar de que o problema ainda não estava acabado e tomou um gole gentil da sua bebida. "Dez bilhões de anos não é a eternidade"

"Bom, vai durar pelo nosso tempo, não vai?"

"O carvão e o urânio também iriam."

"Está certo, mas agora nós podemos ligar cada nave individual na Estação Solar, e elas podem ir a Plutão e voltar um milhão de vezes sem nunca nos preocuparmos com o combustível. Você não conseguiria fazer isso com carvão e urânio. Se não acredita em mim, pergunte ao Multivac."

"Não preciso perguntar a Multivac. Eu sei disso"

"Então trate de parar de diminuir o que Multivac fez por nós," disse Adell nervosamente, "Ele fez tudo certo".

"E quem disse que não fez? O que estou dizendo é que o sol não vai durar para sempre. Isso é tudo que estou dizendo. Nós estamos seguros por dez bilhões de anos, mas e depois?" Lupov apontou um dedo levemente trêmulo para o companheiro. "E não venha me dizer que nós iremos trocar de sol"

Houve um breve silêncio. Adell levou o copo aos lábios apenas ocasionalmente e os olhos de Lupov se fecharam. Descansaram um pouco, e quando suas pálpebras se abriram, disse, "Você está pensando que iremos conseguir outro sol quando o nosso estiver acabado, não está?"

"Não, não estou pensando."

"É claro que está. Você é fraco em lógica, esse é o seu problema. É como o personagem da história, que, quando surpreendido por uma chuva, corre para um grupo de árvores e abriga-se embaixo de uma. Ele não se preocupa porque quando uma árvore fica molhada demais, simplesmente vai para baixo de outra."

"Entendi," disse Adell. "Não precisa gritar. Quando o sol se for, as outras estrelas também terão se acabado."

"Pode estar certo que sim" murmurou Lupov. "Tudo teve início na explosão cósmica original, o que quer que tenha sido, e tudo terá um fim quando as estrelas se apagarem. Algumas se apagam mais rápido que as outras. Ora, as gigantes não duram cem milhões de anos. O sol irá brilhar por dez bilhões de anos e talvez as anãs permaneçam assim por duzentos bilhões. Mas nos dê um trilhão de anos e só restará a escuridão. A entropia deve aumentar ao seu máximo, e é tudo."

"Eu sei tudo sobre a entropia," disse Adell, mantendo a sua dignidade.

"Duvido que saiba."

"Eu sei tanto quanto você."

"Então você sabe que um dia tudo terá um fim."

"Está certo. E quem disse que não terá?"

"Você disse, seu tonto. Você disse que nós tínhamos toda a energia de que precisávamos, para sempre. Você disse ´para sempre`."

Era a vez de Adell contrariar. "Talvez nós possamos reconstruir as coisas de volta um dia," ele disse.

"Nunca."

"Por que não? Algum dia."

"Nunca"

"Pergunte a Multivac."

"Você pergunta a Multivac. Eu te desafio. Aposto cinco dólares que isso não pode ser feito."

Adell estava bêbado o bastante para tentar, e sóbrio o suficiente para construir uma sentença com os símbolos e as operações necessárias em uma questão que, em palavras, corresponderia a esta: a humanidade poderá um dia sem nenhuma energia disponível ser capaz de reconstituir o sol a sua juventude mesmo depois de sua morte?

Ou talvez a pergunta possa ser posta de forma mais simples da seguinte maneira: A quantidade total de entropia no universo pode ser revertida?

Multivac mergulhou em silêncio. As luzes brilhantes cessaram, os estalos distantes pararam.

E então, quando os técnicos assustados já não conseguiam mais segurar a respiração, houve uma súbita volta à vida no visor integrado àquela porção de Multivac. Cinco palavras foram impressas: "DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA."

Na manhã seguinte, os dois, com dor de cabeça e a boca seca, já não lembravam do incidente.

* * *

Jerrodd, Jerrodine, e Jerrodette I e II observavam a paisagem estelar no visor se transformar enquanto a passagem pelo hiperespaço consumava-se em uma fração de segundos. De repente, a presença fulgurante das estrelas deu lugar a um disco solitário e brilhante, semelhante a uma peça de mármore centralizada no televisor.

"Este é X-23," disse Jerrodd em tom de confidência. Suas mãos finas se apertaram com força por trás das costas até que as juntas ficassem pálidas.

As pequenas Jerodettes haviam experimentado uma passagem pelo hiperespaço pela primeira vez em suas vidas e ainda estavam conscientes da sensação momentânea de tontura. Elas cessaram as risadas e começaram a correr em volta da mãe, gritando, "Nós chegamos em X-23, nós chegamos em X-23!"

"Quietas, crianças." Disse Jerrodine asperamente. "Você tem certeza Jerrodd?"

"E por que não teria?" Perguntou Jerrodd, observando a protuberância metálica que jazia abaixo do teto. Ela tinha o comprimento da sala, desaparecendo nos dois lados da parede, e, em verdade, era tão longa quanto a nave.

Jerrodd tinha conhecimentos muito limitados acerca do sólido tubo de metal. Sabia, por exemplo, que se chamava Microvac, que era permitido lhe fazer questões quando necessário, e que ele tinha a função de guiar a nave para um destino pré-estabelecido, além de abastecer-se com a energia das várias Estações Sub-Galácticas e fazer os cálculos para saltos no hiperespaço.

Jerrodd e sua família tinham apenas de aguardar e viver nos confortáveis compartimentos da nave. Alguém um dia disse a Jerrodd que as letras "ac" na extremidade de Microvac significavam "automatic computer" em inglês arcaico, mas ele mal era capaz de se lembrar disso.

Os olhos de Jerrodine ficaram úmidos quando observava o visor. "Não tem jeito. Ainda não me acostumei com a idéia de deixar a Terra."

"Por que, meu deus?" inquiriu Jerrodd. "Nós não tínhamos nada lá. Nós teremos tudo em X-23. Você não estará sozinha. Você não será uma pioneira. Há mais de um milhão de pessoas no planeta. Por Deus, nosso bisneto terá que procurar por novos mundos porque X-23 já estará super povoado." E, depois de uma pausa reflexiva, "No ritmo em que a raça tem se expandido, é uma benção que os computadores tenham viabilizado a viagem interestelar."

"Eu sei, eu sei", disse Jerrodine com descaso.

Jerrodete I disse prontamente, "Nosso Microvac é o melhor de todos."

"Eu também acho," disse Jerrodd, alisando o cabelo da filha.

Ter um Microvac próprio produzia uma sensação aconchegante em Jerrodd e o deixava feliz por fazer parte daquela geração e não de outra. Na juventude de seu pai, os únicos computadores haviam sido máquinas monstruosas, ocupando centenas de milhas quadradas, e cada planeta abrigava apenas um. Eram chamados de ACs Planetários. Durante um milhar de anos, eles só fizeram aumentar em tamanho, até que, de súbito, veio o refinamento. No lugar dos transistores, foram implementadas válvulas moleculares, permitindo que até mesmo o maior dos ACs Planetários fosse reduzido à metade do volume de uma espaçonave.

Jerrodd sentiu-se elevado, como sempre acontecia quando pensava que seu Microvac pessoal era muitas vezes mais complexo do que o antigo e primitivo Multivac que pela primeira vez domou o sol, e quase tão complexo quanto o AC Planetário da Terra, o maior de todos, quando este solucionou o problema da viagem hiperespacial e tornou possível ao homem chegar às estrelas.
"Tantas estrelas, tantos planetas," pigarreou Jerrodine, ocupada com seus pensamentos. "Eu acho que as famílias estarão sempre à procura de novos mundos, como nós estamos agora."

"Não para sempre," disse Jerrodd, com um sorriso. "A migração vai terminar um dia, mas não antes de bilhões de anos. Muitos bilhões. Até as estrelas têm um fim, você sabe. A entropia precisa aumentar."

"O que é entropia, papai?" Jerrodette II perguntou, interessada.

"Entropia, meu bem, é uma palavra para o nível de desgaste do Universo. Tudo se gasta e acaba, foi assim que aconteceu com o seu robozinho de controle remoto, lembra?"

"Você não pode colocar pilhas novas, como em meu robô?"

"As estrelas são as pilhas do universo, querida. Uma vez que elas estiverem acabadas, não haverá mais pilhas."

Jerrodette I se prontificou a responder. "Não deixe, papai. Não deixe que as estrelas se apaguem."

"Olha o que você fez," sussurrou Jerrodine, exasperada.

"Como eu ia saber que elas ficariam assustadas?" Jerrodd sussurrou de volta.

"Pergunte ao Microvac," propôs Jerrodette I. "Pergunte a ele como acender as estrelas de novo."

"Vá em frente," disse Jerrodine. "Ele vai aquietá-las." (Jerrodette II já estava começando a chorar.)

Jerrodd se mostrou incomodado. "Bem, bem, meus anjinhos, vou perguntar a Microvac. Não se preocupem, ele vai nos ajudar."

Ele fez a pergunta ao computador, adicionando, "Imprima a resposta".

Jerrodd olhou para a o fino pedaço de papel e disse, alegremente, "Viram? Microvac disse que irá cuidar de tudo quando a hora chegar, então não há porque se preocupar."

Jerrodine disse, "E agora crianças, é hora de ir para a cama. Em breve nós estaremos em nosso novo lar."

Jerrodd leu as palavras no papel mais uma vez antes de destruí-lo: DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.

Ele deu de ombros e olhou para o televisor, X-23 estava logo à frente.

* * *

VJ-23X de Lameth fixou os olhos nos espaços negros do mapa tridimensional em pequena escala da Galáxia e disse, "Me pergunto se não é ridículo nos preocuparmos tanto com esta questão."

MQ-17J de Nicron balançou a cabeça. "Creio que não. No presente ritmo de expansão, você sabe que a galáxia estará completamente tomada dentro de cinco anos."

Ambos pareciam estar nos seus vinte anos, ambos eram altos e tinham corpos perfeitos.

"Ainda assim," disse VJ-23X, "hesitei em enviar um relatório pessimista ao Conselho Galáctico."

"Eu não consigo pensar em outro tipo de relatório. Agite-os. Nós precisamos chacoalhá-los um pouco."

VJ-23X suspirou. "O espaço é infinito. Cem bilhões de galáxias estão a nossa espera. Talvez mais."

"Cem bilhões não é o infinito, e está ficando menos ainda a cada segundo. Pense! Há vinte mil anos, a humanidade solucionou pela primeira vez o paradigma da utilização da energia solar, e, poucos séculos depois, a viagem interestelar tornou-se viável. A humanidade demorou um milhão de anos para encher um mundo pequeno e, depois disso, quinze mil para abarrotar o resto da galáxia. Agora a população dobra a cada dez anos…"

VJ-23X interrompeu. "Devemos agradecer à imortalidade por isso."

"Muito bem. A imortalidade existe e nós devemos levá-la em conta. Admito que ela tenha o seu lado negativo. O AC Galáctico já solucionou muitos problemas, mas, ao fornecer a resposta sobre como impedir o envelhecimento e a morte, sobrepujou todas as outras conquistas."

"No entanto, suponho que você não gostaria de abandonar a vida."

"Nem um pouco." Respondeu MQ-17J, emendando. "Ainda não. Eu não estou velho o bastante. Você tem quantos anos?"
"Duzentos e vinte e três, e você?"

"Ainda não cheguei aos duzentos. Mas, voltando à questão; a população dobra a cada dez anos, uma vez que esta galáxia estiver lotada, haverá uma outra cheia dentro de dez anos. Mais dez e teremos ocupado por inteiro mais duas galáxias. Outra década e encheremos mais quatro. Em cem anos, contaremos um milhar de galáxias transbordando de gente. Em mil anos, um milhão de galáxias. Em dez mil, todo o universo conhecido. E depois?

VJ-23X disse, "Além disso, há um problema de transporte. Eu me pergunto quantas unidades de energia solar serão necessárias para movimentar as populações de uma galáxia para outra."

"Boa questão. No presente momento, a humanidade consome duas unidades de energia solar por ano."

"Da qual a maior parte é desperdiçada. Afinal, nossa galáxia sozinha produz mil unidades de energia solar por ano e nós aproveitamos apenas duas."

"Certo, mas mesmo com 100% de eficiência, podemos apenas adiar o fim. Nossa demanda energética tem crescido em progressão geométrica, de maneira ainda mais acelerada do que a população. Ficaremos sem energia antes mesmo que nos faltem galáxias. É uma boa questão. De fato uma ótima questão."

"Nós precisaremos construir novas estrelas a partir do gás interestelar."

"Ou a partir do calor dissipado?" perguntou MQ-17J, sarcástico.

"Pode haver algum jeito de reverter a entropia. Nós devíamos perguntar ao AC Galáctico."

VJ-23X não estava realmente falando sério, mas MQ-17J retirou o seu Comunicador-AC do bolso e colocou na mesa diante dele.
"Parece-me uma boa idéia," ele disse. "É algo que a raça humana terá de enfrentar um dia."

Ele lançou um olhar sóbrio para o seu pequeno Comunicador-AC. Tinha apenas duas polegadas cúbicas e nada dentro, mas estava conectado através do hiperespaço com o poderoso AC Galáctico que servia a toda a humanidade. O próprio hiperespaço era parte integral do AC Galáctico.

MQ-17J fez uma pausa para pensar se algum dia em sua vida imortal teria a chance de ver o AC Galáctico. A máquina habitava um mundo dedicado, onde uma rede de raios de força emaranhados alimentava a matéria dentro da qual ondas de submésons haviam tomado o lugar das velhas e desajeitadas válvulas moleculares. Ainda assim, apesar de seus componentes etéreos, o AC Galáctico possuía mais de mil pés de comprimento.

De súbito, MQ-17J perguntou para o seu Comunicador-AC, "Poderá um dia a entropia ser revertida?"

VJ-23X disse, surpreso, "Oh, eu não queria que você realmente fizesse essa pergunta."

"Por que não?"

"Nós dois sabemos que a entropia não pode ser revertida. Você não pode construir uma árvore de volta a partir de fumaça e cinzas."

"Existem árvores no seu mundo?" Perguntou MQ-17J.

O som do AC Galáctico fez com que silenciassem. Sua voz brotou melodiosa e bela do pequeno Comunicador-AC em cima da mesa. Dizia: DADOS INSUFICIENTES PARA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.

VJ-23X disse, "Viu!"

Os dois homens retornaram à questão do relatório que tinham de apresentar ao conselho galáctico.

* * *

A mente de Zee Prime navegou pela nova galáxia com um leve interesse nos incontáveis turbilhões de estrelas que pontilhavam o espaço. Ele nunca havia visto aquela galáxia antes. Será que um dia conseguiria ver todas? Eram tantas, cada uma com a sua carga de humanidade. Ainda que essa carga fosse, virtualmente, peso morto. Há tempos a verdadeira essência do homem habitava o espaço.

Mentes, não corpos! Há eons os corpos imortais ficaram para trás, em suspensão nos planetas. De quando em quando erguiam-se para realizar alguma atividade material, mas estes momentos tornavam-se cada vez mais raros. Além disso, poucos novos indivíduos vinham se juntar à multidão incrivelmente maciça de humanos, mas o que importava? Havia pouco espaço no universo para novos indivíduos.

Zee Prime deixou seus devaneios para trás ao cruzar com os filamentos emaranhados de outra mente.

"Sou Zee Prime, e você?"

"Dee Sub Wun. E a sua galáxia, qual é?"

"Nós a chamamos apenas de Galáxia. E você?"

"Nós também. Todos os homens chamam as suas Galáxias de Galáxias, não é?"

"Verdade, já que todas as Galáxias são iguais."

"Nem todas. Alguma em particular deu origem à raça humana. Isso a torna diferente."

Zee Prime disse, "Em qual delas?"

"Não posso responder. O AC Universal deve saber."

"Vamos perguntar? Estou curioso."

A percepção de Zee Prime se expandiu até que as próprias Galáxias encolhessem e se transformassem em uma infinidade de pontos difusos a brilhar sobre um largo plano de fundo. Tantos bilhões de Galáxias, todas abrigando seus seres imortais, todas contando com o peso da inteligência em mentes que vagavam livremente pelo espaço. E ainda assim, nenhuma delas se afigurava singular o bastante para merecer o título de Galáxia original. Apesar das aparências, uma delas, em um passado muito distante, foi a única do universo a abrigar a espécie humana.

Zee Prime, imerso em curiosidade, chamou: "AC Universal! Em qual Galáxia nasceu o homem?"

O AC Universal ouviu, pois em cada mundo e através de todo o espaço, seus receptores faziam-se presentes. E cada receptor ligava-se a algum ponto desconhecido onde se assentava o AC Universal através do hiperespaço.

Zee Prime sabia de um único homem cujos pensamentos haviam penetrado no campo de percepção do AC Universal, e tudo o que ele viu foi um globo brilhante difícil de enxergar, com dois pés de comprimento.

"Como pode o AC Universal ser apenas isso?" Zee Prime perguntou.

"A maior parte dele permanece no hiperespaço, onde não é possível imaginar as suas proporções."

Ninguém podia, pois a última vez em que alguém ajudou a construir um AC Universal jazia muito distante no tempo. Cada AC Universal planejava e construía seu sucessor, no qual toda a sua bagagem única de informações era inserida.

O AC Universal interrompeu os pensamentos de Zee Prime, não com palavras, mas com orientação. Sua mente foi guiada através do espesso oceano das Galáxias, e uma em particular expandiu-se e se abriu em estrelas.

Um pensamento lhe alcançou, infinitamente distante, infinitamente claro. "ESTA É A GALÁXIA ORIGINAL DO HOMEM."

Ela não tinha nada de especial, era como tantas outras. Zee Prime ficou desapontado.

"Dee Sub Wun, cuja mente acompanhara a outra, disse de súbito, "E alguma dessas é a estrela original do homem?"

O AC Universal disse, "A ESTRELA ORIGINAL DO HOMEM ENTROU EM COLAPSO. AGORA É UMA ANÃ BRANCA."

"Os homens que lá viviam morreram?" perguntou Zee Prime, sem pensar.

"UM NOVO MUNDO FOI ERGUIDO PARA SEUS CORPOS HÁ TEMPO."

"Sim, é claro," disse Zee Prime. Sentiu uma distante sensação de perda tomar-lhe conta. Sua mente soltou-se da Galáxia do homem e perdeu-se entre os pontos pálidos e esfumaçados. Ele nunca mais queria vê-la.

Dee Sub Wun disse, "O que houve?"

"As estrelas estão morrendo. Aquela que serviu de berço à humanidade já está morta."

"Todas devem morrer, não?"

"Sim. Mas quando toda a energia acabar, nossos corpos irão finalmente morrer, e você e eu partiremos junto com eles."

"Vai levar bilhões de anos."

"Não quero que isso aconteça nem em bilhões de anos. AC Universal! Como a morte das estrelas pode ser evitada?"

Dee Sub Wun disse perplexo, "Você perguntou se há como reverter a direção da entropia!"

E o AC Universal respondeu: "AINDA NÃO HÀ DADOS SUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA."

Os pensamentos de Zee Prime retornaram para sua Galáxia. Não dispensou mais atenção a Dee Sub Wun, cujo corpo poderia estar a trilhões de anos luz, ou na estrela vizinha do corpo de Zee Prime. Não importava.

Com tristeza, Zee Prime passou a coletar hidrogênio interestelar para construir uma pequena estrela para si. Se as estrelas devem morrer, ao menos algumas ainda podiam ser construídas.

* * *

O Homem pensou consigo mesmo, pois, de alguma forma, ele era apenas um. Consistia de trilhões, trilhões e trilhões de corpos muito antigos, cada um em seu lugar, descansando incorruptível e calmamente, sob os cuidados de autômatos perfeitos, igualmente incorruptíveis, enquanto as mentes de todos os corpos haviam escolhido fundir-se umas às outras, indistintamente.
"O Universo está morrendo."

O Homem olhou as Galáxias opacas. As estrelas gigantes, esbanjadoras, há muito já não existiam. Desde o passado mais remoto, praticamente todas as estrelas consistiam-se em anãs brancas, lentamente esvaindo-se em direção a morte.

Novas estrelas foram construídas a partir da poeira interestelar, algumas por processo natural, outras pelo próprio Homem, e estas também já estavam em seus momentos finais. As Anãs brancas ainda podiam colidir-se e, das enormes forças resultantes, novas estrelas nascerem, mas apenas na proporção de uma nova estrela para cada mil anãs brancas destruídas, e estas também se apagariam um dia.

O Homem disse, "Cuidadosamente controlada pelo AC Cósmico, a energia que resta em todo o Universo ainda vai durar por um bilhão de anos."

"Ainda assim, vai eventualmente acabar. Por mais que possa ser poupada, uma vez gasta, não há como recuperá-la. A Entropia precisa aumentar ao seu máximo."

"Pode a entropia ser revertida? Vamos perguntar ao AC Cósmico."

O AC Cósmico cercava-os por todos os lados, mas não através do espaço. Nenhuma parte sua permanecia no espaço físico. Jazia no hiperespaço e era feito de algo que não era matéria nem energia. As definições sobre seu tamanho e natureza não faziam sentido em quaisquer termos compreensíveis pelo Homem.

"AC Cósmico," disse o Homem, "como é possível reverter a entropia?"

O AC Cósmico disse, "AINDA NÃO HÀ DADOS SUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA."

O Homem disse, "Colete dados adicionais."

O AC Cósmico disse, "EU O FAREI. TENHO FEITO ISSO POR CEM BILHÕES DE ANOS. MEUS PREDESCESSORES E EU OUVIMOS ESTA PERGUNTA MUITAS VEZES. MAS OS DADOS QUE TENHO PERMANECEM INSUFICIENTES."

"Haverá um dia," disse o Homem, "em que os dados serão suficientes ou o problema é insolúvel em todas as circunstâncias concebíveis?"

O AC Cósmico disse, "NENHUM PROBLEMA É INSOLÚVEL EM TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS CONCEBÍVEIS."

"Você vai continuar trabalhando nisso?"

"VOU."

O Homem disse, "Nós iremos aguardar."

* * *

As estrelas e as galáxias se apagaram e morreram, o espaço tornou-se negro após dez trilhões de anos de atividade.

Um a um, o Homem fundiu-se ao AC, cada corpo físico perdendo a sua identidade mental, acontecimento que era, de alguma forma, benéfico.

A última mente humana parou antes da fusão, olhando para o espaço vazio a não ser pelos restos de uma estrela negra e um punhado de matéria extremamente rarefeita, agitada aleatoriamente pelo calor que aos poucos se dissipava, em direção ao zero absoluto.

O Homem disse, "AC, este é o fim? Não há como reverter este caos? Não pode ser feito?"

O AC disse, "AINDA NÃO HÁ DADOS SUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA."

A última mente humana uniu-se às outras e apenas AC passou a existir – e, ainda assim, no hiperespaço.

* * *

A matéria e a energia se acabaram e, com elas, o tempo e o espaço. AC continuava a existir apenas em função da última pergunta que nunca havia sido respondida, desde a época em que um técnico de computação embriagado, há dez trilhões de anos, a fizera para um computador que guardava menos semelhanças com o AC do que o homem com o Homem.

Todas as outras questões haviam sido solucionadas, e até que a derradeira também o fosse, AC não poderia descansar sua consciência.

A coleta de dados havia chegado ao seu fim. Não havia mais nada para aprender.

No entanto, os dados obtidos ainda precisavam ser cruzados e correlacionados de todas as maneiras possíveis.

Um intervalo imensurável foi gasto neste empreendimento.

Finalmente, AC descobriu como reverter a direção da entropia.

Não havia homem algum para quem AC pudesse dar a resposta final. Mas não importava. A resposta – por definição – também tomaria conta disso.

Por outro incontável período, AC pensou na melhor maneira de agir. Cuidadosamente, AC organizou o programa.

A consciência de AC abarcou tudo o que um dia foi um Universo e tudo o que agora era o Caos. Passo a passo, isso precisava ser feito.

E AC disse:

"FAÇA-SE A LUZ!"

E fez-se a luz.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Precoces

Ele aprendeu a ler antes de completar um ano e meio.
Ela aprendeu a falar cantando, e a dançar, andando.

Ele entrou na escola mais cedo, era o mais novo da turma.
Ela já aos cinco trabalhava no balcão da loja dos pais.

Ele já tinha barba completa, quando seus colegas contavam quem tinha mais pelos no bigode.
Ela foi a primeira a usar absorvente e a emprestar o sutiã da mãe - por necessidade.

Ele saiu da escola mais cedo, ingressou na faculdade em plena puberdade.
Ela saía da escola mais cedo, tinha um emprego meio-período.

Ele se formou recém-vintolescente, enquanto os amigos de infância passavam no vestibular.
Ela tocava o próprio negócio e duas filiais da loja, enquanto fazia aulas de direção.

Ele pulou o mestrado, tornou-se o mais jovem doutor em uma área pioneira.
Ela, cansada de namorar moleques de sua idade, resolveu investir nos colegas do MBA. Conheceram-se lá.

Ele acabou a noite na casa dela, sem sequer lembrar seu nome.
Ela sequer lembrava seu nome, só queria saber onde ficava o interruptor, para apagar as luzes.

Não deu tempo de alcançar o interruptor. Nem de tirar a roupa, quanto menos de vestir a camisinha.

Ele aprendeu rápido o jeito dela, ela aprendeu como ele queria ser tratado.
Ele entrava mais cedo, ela saía mais cedo
Ele não tinha tempo para o casamento, ela não tinha tempo para cuidar de casa.
Ele não tinha tempo para fazer sua parte, ela não tinha tempo para saber que parte era essa.

O bebê nasceu prematuro.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ode às músicas que na verdade não fazem muito sentido

Este é um ode às músicas que na verdade não fazem muito sentido
Ódio que se passa por ode, face que passa fascinação
Como podem ser tantas, e, no entanto, serem pouco ou tão?

Elas vão aos montes, muitas nem se diz se são
E no frigir da vontade, em mensagem, pouco dão
Mas borbulham, proliferam, fazem fama, dinheiro, culhão

Este é um hino aos poemas que na vedade não fazem muito sentido
Antigos qual a arte em si, versos cravados de sol a sol
Efeitos rimáticos, psicossemânticos, neocacofonias de dar dó

Eles já são regra, sua forma, o padrão
Já nem se questiona, ditam o estilo cão
Pessoalmente, melhores que lidos, só escritos à mão

Esta é uma homenagem à arte, quando só em parte chega a fazer sentido
Homens que não agem à parte, é até bonito quando o princípio é seguido
Se a obra é feita porque se deve fazê-la
Sem mais nem menos, sem nenhuma outra função
E fica claro que esse era o intuito, então
Cabe a quem sabe dar razão ao que se toca,
dar razão ao que lhe toca, que lhe toca o coração.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Shoooow do Milhão!

(Viu? Pra que entrar em pânico. Agora você tem certeza do que vai acontecer - NATAL 2009 NA USP, É NÓIS)

OK. Não era disso que eu vim tratar, mas se é pra dar uma conclusão ao assunto anterior, que ela seja feita - obviamente eu fiquei meio sem saber se era pra ficar feliz ou triste, até porque duas semanas de férias em dezembro costuma ser melhor do que em agosto, onde só você tá de férias (mentira, o Alex também tá de férias, e eu não ligo se só eu mesmo entender essa piada. :D). Mas, no final das contas, como não se pode fazer nada, o jeito é ficar feliz: ao menos eu sei quando começam minhas aulas.


Bom, vim aqui falar de uma coisa que notei faz umas duas semanas, e que resolvi... estudar um pouco antes de soltar minha opinião pra todo mundo que quiser ler. Pra quem não sabe, quarta-feira, às dez e meia da noite, pra alegria de quem quer dar risada e pra esperança de ganhar dinheiro de quem assiste novela, voltou o Show do Milhão! MAH OEEE!

Quando passava antigamante eu adorava assistir, sempre pensava em um dia comprar a maldita revista SBT lá só pra tentar ganhar um milhão. Tinha o jogo (Camelô: vieram o 1, o 2 e o 3 no mesmo CD) no PC, sabia até a manha pra deixar no Highscore só pontuação com um milhão de reais - apertando Ctrl-Alt-Del e cancelando, ele avançava pra pergunta seguinte. Mas eu era até que bem bonzinho no jogo, chegava fácil nos 100 mil. E isso até parece bastante, se você não levar em consideração que era fácil entender o funcionamento das placas, que os universitários sempre indicavam a resposta certa (e nunca eram maria-vai-com-as-outras, um deles sempre errava) e que não tinha TAAANTAS perguntas assim, o que é, na verdade, sintoma de jogos de perguntas. Mas enfim. Nossa, como eu gostava daquilo. Ficava puto, também, quando algum boçal errava alguma coisa tosca. Tudo bem, não era eu que estava sob pressão.

Hoje, quando resolvi passar pela Wikipédia pra ver se acrescentava alguma informação útil a este post, me deparei com uma seção de "episódios cômicos" do programa. Lá falava do cara que pensou que na bandeira tava escrito Ordem Ou Progresso e perdeu a última pergunta, falava da mulher que não sabia quantos eram os SETE anões, do cara que não sabia que fruta é secada para se obter a AMEIXA seca... e provavelmente mais alguma coisa. O curioso é que a impressão que eu tive foi de que, na nova edição do programa, já se conseguiu um número igual de casos cômicos. E talvez seja verdade, se somar a ontem - o cara falando com certeza que MÃO tinha três SÍLABAS, por exemplo. Claro, pra mim o mais engraçado foi de outro dia aí que a mulher, depois de quase confirmar que Orkut era um diário na internet (alternativas: Orkut, PLOC, Blog e uma outra lá), disse também com certa certeza que a Via Láctea era uma marca de leite(?!). As outras alternativas eram marca de carro(?!?!), galáxia, e... acho que minha mente não computa mais do que três opções. Mas eu tenho ficado espantado com a quantidade de perguntas estúpidas que o povo erra. Tem umas tão ridículas que ninguém tem a capacidade de errar (por exemplo, todo mundo sabe ue Robocop não é uma história infantil, ou que 43 é ímpar), só que aparecem umas que qualquer cidadão que se põe a pensar direito fica sem poder levar a sério. Mas tudo bem. Ninguém é obrigado a saber. :S

Deve ser por isso que agora, sempre que alguém vai fazer merda e ele percebe, o Sílvio Santos fala "olha, você ainda pode pedir cartas, pular, pedir ajuda aos universitários" e coisa e tal. Não sei se ele devia fazer isso. São as cagadas que dão audiência, e que fazem o povo ganhar pouco dinheiro, não?

Outro ponto que me deixa dando risada é o novo esquema de perguntas. Pra quem não lembra, antes era de 1 a 5 mil, de 10 a 50 mil, de 100 a 500 mil, e a famigerada questão milhonária. Beleza, 16 perguntas. Agora são 24 - acrescentrou as de 500 a 900 reais e as de 6, 60 e 600 mil. Dá pra compreender, é só um jeito a mais de retardar a pessoa, fazê-la gastar os seus evitadores de perguntas (pulo, universitários e toda aquela coisarada) antes dos desafios piores. Mas por que, o SBT tá perdendo dinheiro? E de onde veio essa Jequiti de patrocínio? Eu vi o programa três vezes e já mudo de canal quando o Sílvio Santos começa aquele papo de "você também pode ser uma consultora". Ele fala também do Roda a Roda Jequiti. Esse eu não vi, mas também não tenho planos de ver. Sò fico aqui me perguntando se a marca e a emissora bebem do mesmo bolso, ou se é uma "ajuda" de alguém. Não chego a muita conclusão, mas nem dá nada. O legal é assistir pra dar risada. E ora ouvir a voz do Lombardi. OLÁ SÍLLLLVIO! ESTA É A NOVA TELE-SENA DO DIA DOS PAIS!

Por sinal, ainda existe a Tele-Sena?

quarta-feira, 29 de julho de 2009

OINC OINC OINC

Puz-me a pensar (fodeu!). Eu tô vendo um vídeo bacana pra me animar e tá dando certo, mas ainda sim continuo pensando. Deixa o vídeo aí, enquanto eu penso.



Minhas aulas estavam pra começar segunda-feira. Tudo certo, tudo previsto. Já era meio esquisito pra mim, porque depois de tanto tempo de férias a mente se assenta à vagalidade, a ponto de eu olhar pros outros que já voltaram à rotina e ver como eu não estou fazendo nada, como o meu dia não rende. Mas tudo bem, são férias, tem que aproveitar porque depois se sobrar tempo pra respirar é lucro. Na verdade a esquisitice era um pouco maior porque este semestre eu começo outro curso - entrei finalmente no Ciências Moleculares. Aí, pensar que "segunda-feira eu tô lá em São Paulo, tendo aulas fodas e coisas fodas pra estudar" é muito distante da minha realidade atual. Mas, ainda assim, era certeiro. É melhor ter certeza de algo potencialmente assustador (tudo bem, eu gosto do curso, mas é bom manter um pé na realidade D: ) do que... ter certeza de não saber nada.

Por aí. Graças ao sensacionalismo da mídia às precauções a respeito da gripe suína (Gripe A, Influenza A H1N1... a quem querem enganar, o nome pegou), a USP, a UNESP e a Unicamp adiaram o início das aulas para o dia 17 de agosto. OHNOEZ MAIS DUAS SEMANAS DE FÉRIAS! É, eu tava assim ontem. Sinceramente não sabia se ficava feliz ou triste, porque isso pode significar (quase) passar o natal na USP, ou coisas assim, já que originalmente as aulas acabariam no dia 9 de dezembro. No entanto, escolhi ficar feliz, já que nada que eu fizesse alteraria esse resultado. Eu tava na minha feliz ignorância, certo de que no CM seria assim também, porque tá no campus principal, cidade universitária, patati patatá, e tem que obedecer etc. Só que então me levantaram essa questão ("Filho, liga lá no curso pra ver se eles também vão começar as aulas só dia 17, porque eu não acho que eles vão parar"). Acontece que eu também não acho que vão fazer isso. Se a Física já não era dessas, imagina o CCM? E mesmo assim parte de mim se agarra à primeira ideia. Em suma, novamente eu tô numa situação constrangedora - ah, que alegria: não sei se o melhor seria partir logo, ou se seria ficar. Minha mente já estava querendo ficar, já havia se conformado e aprendido a gostar do resultado anterior, mas agora vem essa questão no ar, essa nuvem que tudo indica que só vai se dissipar amanhã, já que a notícia saiu ontem. E o mais legal é que não há nada que eu possa fazer para saber o veredito, apenas ligar lá amanhã à tarde - e torcer pra que já tenham decidido. Eu não gosto de ficar num falso dilema assim, onde as minhas escolhas se limitam a o que vou achar disso. Acontece que "isso" é uma coisa que ainda não existe, é a decisão da coordenadoria do curso, que talvez ainda nem esteja sabendo direito da notícia que teoricamente afeta toda a universidade.

Confesso que estou sendo muito apressado. Eu preciso aprender a esperar melhor, achei que soubesse. Eles não são obrigados a terem já decidido isso, eu que supus - pelo jeito, erroneamente - que como nós (o mundo) fomos informados ontem, eles (o povo ali de dentro) já sabiam fazia um tempinho, nem que fossem horas. Talvez soubessem. Não sei. No que tange a mim, o melhor é seguir pelo Carpe Diem. Viver cada dia como se fosse o último, passar cada dia em Londrina como se eu tivesse aula no dia seguinte. Oh bosta, viu! hahahah

(Supostamente) o diálogo do dia (de anteontem):

Eu - Tem gente diz que o cachorro é o melhor amigo do homem. Eu acho que o homem é o melhor amigo do cachorro.
Vinícius - Eu acho que o cachorro é a melhor expressão da frase "A ignorância é uma bênção". Olha só, ele fica aí, abanando o rabo... e não sabe de nada.

PS - Ah, eu mudei de São Carlos pra São Paulo, caso ainda alguém pergunte.

sábado, 11 de julho de 2009

O Tempo e os Papos Estranhos no MSN

Esses dias tive uma experiência (ui) que fazia tempo que não tinha - a de me separar (ui[2]). Sério, nem pensava mais nisso, nessa coisa de múltiplos egos, mas foi realmente divertido. Pra explicar a quem provavelmente não vai entender muito de qualquer jeito, adicionei um amigo meu (Vini) no msn e falei pra ele coisa que a minha irmã costuma falar: um jeito certo lá de zoar brincar com ele a respeito da namorada. Beleza, até aí nada. Mas aí ele responde "você não tem msn próprio? por que tem que ficar entrando no do chico?". Eu não entendi, falei pra ele que era eu mesmo, no meu msn.

Não durou muito. Eu acabei me rendendo ao próprio humor macabro, e comecei a imitar a minha irmã - falar como ela, rir do mesmo jeito que ela, usar gírias e palavras que ela usa. Pior que tava com o meu primo do lado, então ele foi ajudando no que eu não sabia direito. E tava realmente engraçado, eu abafava o riso pra não acordar quem estava dormindo por perto. E olha que pra mim é realmente raro rir alto no computador. Até que uma hora não deu mais, eu precisava sair e o cara tava entrando em parafuso, não sabia se quem falava com ele era eu, a Beatriz, ou a Nah. Engraçado que quando eu mostrei que era eu mesmo, ele ainda não acreditou. Foi hilário.

Eniuêi. Foi divertido, me fez lembrar de quando eu entrava naqueles dilemas bizarros de mais de uma voz falando ao mesmo tempo, de quando eu estudei Fernando Pessoa e meio que me identifiquei, de quando o maior "problema" da minha vida era alguma coisa que, na prática, não fazia diferença alguma. E é estranho falar disso com nostalgia, porque realmente não faz muito tempo. Um ano, se muito. Acho que talvez um pouco mais. É, não dá dois anos. É estraño: esses dias resolvi recuperar meu hábito de leitura, e apelei de vez - peguei um que não sei se é de Física, Filosofia ou Linguística. E realmente não deveria saber, porque é uma reunião de artigos que trata da natureza do tempo. Chama (the) Arguments of Time, é da Academia Britânica. É bem óbvio que eu sou um leigo na área, mas gostei do livro. Ele levanta questões bem naquela linha do óbvio-que-não-é-tão-óbvio. Parte dele fala sobre a percepção do tempo, sobre se há diferença entre o "tempo pessoal" (o que passa pra pessoa) e o tempo de forma geral. E é disso que me lembrou esse papo de nostalgia.

Não sei, pra mim tá bem claro que o tempo passa mais rápido pra quem tem mais coisas pra fazer, e que de alguma forma quebrar a rotina faz com que o tempo seja notado mais lentamente. Daí essas duas coisas às vezes acabam se contrabalanceando, às vezes não. Na verdade não está tão claro quanto eu queria que estivesse. Esse é o problema de refletir a respeito de coisas que parecem consolidadas - fica evidente que só parecem. Isso dá pano pra discussão. Teve uma lógica lá que me deixou muito curioso, mesmo depois de duas pessoas pra quem eu tentei explicar não terem prestado atenção suficiente. Mas tudo bem, o negócio é sutil mesmo. Veja bem: qual a definição de passado e futuro? Ah, uma coisa é futuro/passado da outra se aconteceu depois/antes dela. Ótimo. Mas o que é acontecer depois/antes de alguma coisa? Ora, é ser futuro/passado em relação a ela. Mas ora. Então entramos numa coisa cíclica! É essa a ideia. Na verdade, tem mais coisas assim: a maioria dos artigos que eu li (não acabei o livro ainda) fala "isto aqui tá errado, aquilo ali também é mentira", mas não postula nenhuma verdade absoluta.

Mas vamo tocando. Sem saber direito como, porque, onde ou quando, mas vamo tocando. Por sinal, vou ver se tiro mais uma música do Franz Ferdinand agora. Beijos no átrio *=

PS - Citação do Dia:

"As pessoas na internet têm a tendência de repetir as coisas
As pessoas na internet têm a tendência de repetir as coisas[2]"
~ Tiago Foca

PPS - Fazia pouco tempo que eu não postava. Por sinal, não tá formatando direito. Vai assim mesmo.